sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Aconteceu em Blumenau


Nossa segunda edição leva o nome de Aconteceu em Blumenau.

Baseado na carta escrita por Frau Schelle, no ano de 1855, relatando um assalto de bugres à sua resisdência; o exemplar narra as diversas versões do acontecido.

A segunda edição da Revista foi lançada no início de outubro de 2010 e contou com a impressão de 150 exemplares.

A versão online da Travessa em Três Tempos - Aconteceu em Blumenau está disponível para download na versões:

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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

[H.]

Eis que aqui chegamos, depois de tanto, depois de tudo. Olhamos nos álbuns de fotografia e, de repente: quem sou eu?

Venho apresentar-me, mas não porque eu queira. Mostrar-me escondida por um pseudônimo é cômodo. É paradoxal. Acima de tudo, é misterioso. Quem não conhece as façanhas já feitas por escritores e compositores que se mostravam por pseudônimos? É um misto de tempos após contratempos, fazendo com que o momento fosse propício à medida que a história se desenrolava.

Histórias boas ou ruins, bem ou mal escritas, dramáticas ou hilárias, sobretudo, despretensiosas são as que me formam. Hoje, sou uma; amanhã, mantenho a essência; depois, já serei outra. Nem frágil que desmonte, nem forte demais que não se adapte.

Desse jeito me mostro: querendo ser exatamente como sou, para ser levada além. Vinda não se sabe de onde, indo para um destino incomum. No trajeto, lágrimas; de felicidade e de tristeza, que se completam. Pedras no caminho foram vistas, logo após, retiradas. E apoderando-me delas, venho fazendo minha rua ladrilhada.

Maria Bonita [M.B]

Quem dera eu transpor nestas frases meus sentimentos a respeito de quem sou. Mas as palavras, outrora tão amigas, neste momento me parecem não compactuar com esta idéia. Para desvendar a pessoa que hoje sou, precisarei lhe contar de onde vim, por onde passei, com quem conversei, quem tocou meu coração e nele permaneceu e também aqueles que partiram depois de deixar uma pequena parcela de seu próprio ser.

E agora? Como me definir? Se é que palavras definem alguém, prefiro acreditar que não meus atos que me definem. Isso significa dizer que prefiro saber do uso que faço de minhas palavras do que delas em si.

Palavra, o fato de pronunciá-la acarreta numa força da qual a maioria das pessoas não consegue compreender. Sua palavra pode perturbar a paz, mas também, e felizmente, trazê-la ao coração de quem precisa. Inquietante saber que uma simples palavra pode ser o bater de asas da borboleta; isso lhe faz responsável pelo que pronuncia, isso lhe faz responsável por uma possível lágrima derramada, ou um belo sorriso esboçado. Qual a distância entre a lágrima e o sorriso? Talvez uma única palavra; talvez uma centena; talvez ela não esteja em você. Entretanto a ciência de que aquilo que você diz não pode ser desdito, não lhe deixa mais cauteloso a respeito do que proferir?

Quem sou? Sou alguém impossibilitada - mesmo que por hora - de ver o mundo como ele é, sou alguém que olha o mundo do jeito que eu sou.

Flor do Cerrado

Quem sou eu?

Quem foi/é calango do cerrado, sabe da secura do vento
da poeira que avoa no fim da tarde, sob o pôr do sol encarnado
quando embreagado com cheiro do pequi e o sabor do buriti
pronto pra transmutar e virar a mais linda flor...
Qual será?
A do cerrado.

[L!]

Dos escombros das inquietações, eu surjo - ou não. Dos fragmentos das palavras, eu escrevo. Dos vestígios do sentimento, eu sinto. Minto, desminto: em várias perspectivas; nenhuma. Nas invenções não fictícias, minhas mãos calejadas são traduzidas e, sobretudo, traduzem.

Nos gritos que não foram ouvidos, ecoa a minha literatura de idéias. Ali, onde ninguém viu, eu estava. Restava, aos que não me observavam, fingir - e isso eles bem sabem! No vestíbulo, recluso, escrevia e ainda escrevo. Me atrevo a escrever. De modo solitário, muito solitário, me atrevo a escrever...