Nossa Proposta


Aquela “rua de mão única” do andarilho de Benjamin dobrou a esquina e caiu na travessa Onde a possibilidade da experiência se alargou “no zúo de um minuto mito” pelo esbravejar de Riobaldo nos chapadões. Então a visão do andarilho clareou todas as palavras perdidas na rede do pescador. E toda linguagem, deu conta de nomear tudo, como Funes o memorioso não suportou e a narrativa tornou-se o único sentido da existência.

Sentido que se confunde no tempo e, por vezes, foge dele. Futuro, presente, pretérito; perfeito, imperfeito, mais-que-perfeito: verdade fora do tempo!

Insensatez perene, numa periodicidade recorrente de revistas, vistas e revistas, visitadas e revisitadas. Continuidade em um fluxo, como uma constante que perpassa conhecimento, que divide experiências que simbolicamente narra diferentes caminhos, diferentes travessas, outros planos, prismas, histórias em perspectivas.

Outros homens, mulheres, crianças; outras pessoas, animais, trecos; outros malandros escondidos, sujeitados a ter a cabeça nas nuvens e os pés no chão, como outros tantos, como a gente, como o clareamento na visão do andarilho, enrolando-se no fio da memória e na linha do tempo.

Três aprendizes, um bocado de palavras sem sentido, agregando outros aprendizes com diversos sentidos e outras palavras. O encontro se dá na travessa, regados à bebida amarela que traz memórias, micros, macros, estas, outras, aquelas, de antes, de agora, de depois; juntam-se, separam-se.

Assim vaga o andarilho à perder-se na travessa, aquela que mesmo fugindo do pensar esquemático da casa do andarilho se mantêm plena de pensar. Eis o mistério da “rua de mão única” desvendado pelo fluxo do narrar, visto da perspectiva dos olhos do flaneur, tão bem descrito por Baudelaire, visto de tantas outras perspectivas. Reside aí o mistério, do olhar, do pensar, do narrar.Abstrai-se da necessidade empírica do raciocinar, e se joga na via das palavras. Assim versões, diferenças, contrastes, se unem no propósito de desconstruir as teias da verdade única, da história única; tecidas à custa de séculos de visões unilaterais.

Nós aprendizes, rumamos até a travessa e lá despojamos nossos métodos, meticulosamente apreendidos. Livramo-nos desse peso, sem esquecer que somente aquilo que é caro pesa, para que possamos clarear o olhar, perceber novos olhares. Desfrutar dessa capacidade de idear do historiador, e se não do historiador, pelo menos do andarilho de Benjamim.

O que sois vós além de andarilhos vagando sem destino, até deparar-se com a travessa? Aquela entranhada na miscelânea de tempos: futuro, presente, pretérito. Aquela desvinculada da supremacia da verdade. Aquela repleta de pensar. Faço à vos um pedido, quando o mistério se apresentar: perceba-o.